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POEMA: O Verde



Eu sou o verde,
Vim de um arco-íris e escorreguei
por dentro de uma gota de chuva.
O céu era azul e a terra amarela
e deles nasci.
Andei à cata de coisas
e poisei num cacto do deserto.
De mar em mar,
de lagarto em rã,
descobri esmeraldas
e abri os olhos dos gatos.
Andei de gatas, rasteirinho,
pela terra dos gafanhotos novos,
da salsa, das nabiças,
da alface e da hortelã.
Fiz-me caldo verde.
Fui à mesa, escondido no vidro das garrafas.
Dei-me a cheirar nos manjericos.
Espreitei pelas persianas e vi os carros
passarem quando eu mandava.
Mostrei-me nas bandeiras.
Subi às alturas na hera dos muros:
nos limos, nas algas, desci às funduras.
Viajei muito, colecciono tudo:
penas de papagaio,
berlindes,
ervilhas,
trevos de quatro folhas,
moedas desenterradas.
Umas vezes sou velho, outras vezes sou novo.
Tanto posso despontar de uma erva escondida
como posso secar numa folha caída.


Maria Alberta Meneres / António Torrado
O Livro das 7 cores

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